domingo, 23 de maio de 2010

Resposta ao Post Viciado Sim! Alcoólatra Não!

Por Felipe Campelo (com um L só)

Só para constar, o Campelo é com um L só. Originalmente tem um acento circunflexo no E, mas deixei de usá-lo por pura praticidade. Afinal, nenhum dos meus documentos oficiais utiliza-se de acento mesmo. Contudo, vamos ao que realmente interessa.

Ao contrário do que o J.C. comentou, para mim, a questão é sim, principalmente, de semântica. Quando faço questão de frisar que viciado em bebidas alcoólicas é a mesma coisa que alcoólatra é porque o primeiro de fato se constitui a definição do último.

Tenho que discordar do meu amigo Vanildo, mas viciado e alcoólatra não são a mesma merda. Pode-se ser viciado em inúmeras coisas, das mais simples até as mais bizarras. O vício em álcool (bebidas) é que se constitui em alcoolismo (estou redundante para evitar equívocos).

Acontece é que mesmo quando se torna uma patologia, o uso de bebidas alcoólicas possuí vários graus (assim como as próprias bebidas... rsrs) de dependência.

Pode não ter parecido, mas eu entendi muito bem a diferenciação que o Vanildo quis fazer. O Vanildo estava explicando que sua apreciação pelo álcool está em um nível de dependência leve, que ele gosta de beber muito, mas que “consegue parar de beber quando quiser” (coisa perigosa de se dizer...) e que seu “vício” não lhe traz problemas sérios. Ao contrário dos outros estágios em que a dependência começa a atrapalhar (e vai progressivamente piorando) a vida do sujeito em diversos assuntos.

Pois bem, você deve estar se perguntando então por qual motivo eu não simplesmente concordei com ele. Ora, se eu tivesse feito isso não teríamos assunto até agora e a coisa acabaria ali. Fiz isso com o Vanildo pois sabia de sua capacidade para argumentar e que a conversa renderia.


Continuo, contudo, defendendo que sua fala foi contraditória, principalmente para os seres não pensantes. Mas entendi muito bem o conteúdo do que foi dito.

Minhas provocações acerca do uso semântico não é apenas um preciosismo de jornalista, mas uma necessidade para o entendimento no diálogo. Já vi inúmeros (exagero meu, mas alguns) debates em que não havia um avanço na questão proposta simplesmente porque um conceito era entendido de maneira diversa pelos lados ou porque os lados usavam conceitos diferentes para falar da mesma coisa.

Para finalizar, não sei se conservador seria muito adequado para me definir. Tal conceito já foi tão utilizado, “pisoteado”, “esgarçado” e “estuprado” que é necessário fazer uma revisão antes de entrar nessa debate (fica para próxima).

Quanto ao convicto tenho que acabar com suas ilusões, mas sou muito pouco. Minha convicção geralmente se restringem às minhas dúvidas.

Discordo também de não concordar com você em bulhufas. Com certeza pensamos parecido em algumas coisas. Gosto porém de provocar (isso sim culpa do J.C.) e debater para mim é muito divertido.

Ps: é "bunitinho" esse "Filipi".

2 comentários:

  1. Como fui mencionado pelo Campêlo, também me sinto na necessidade de um "direito de resposta". Contudo, por ora, me contentarei com um comentário breve, mas espero voltar ao tema com a profundidade necessária.

    Ao afirmar que não se trata somente de uma questão semântica estabeleci um recorte no qual desconsidero o autor-enunciatário, neste caso especifico o Vanildo. Ou seja, me detenho somente no “dito”, embora conheça o contexto em que tal declaração foi dada.

    Bom, dessa forma, o que está grafado no jornal, na “materialidade discursiva”, Felipe? Oras, um tremendo paradoxo, quiçá contradição. Ao afirmar “sou viciado, dependente mesmo da bebida” há uma afirmação assertiva (permita-me a redundância) que, contudo, será desmentida logo em seguida pelo “embora não seja alcoólatra”. Dessa forma ele, o sujeito em questão, enuncia ao mesmo tempo sou/não-sou, oferece A e não-A, se coloca fora e dentro do mesmo circulo; inscreve, para tanto, uma antítese no interior do enunciado (este é o ponto alto, a força motriz da oração, penso) e suscita do leitor a seguinte compreensão: “Não concordo que a acepção corriqueira do termo ‘alcoólatra’ se ajuste ao meu caso”. Assim, é uma escolha por negar o sentido denotativo da palavra que, de forma estrita, define uma patologia. Isso se dá logo após (enfatizo), logo ali no inicio da fala, ter traçado características (arque)típicas de um alcoólatra. Ou seja, a coisa é mais complexa do que aparenta... Ou não, posso apenas criar problemáticas sobre um solo prestes a sofrer um processo de liquefação...

    p.s.: Ah, acho também de grande importância não nos esquecermos que aqui é um sujeito falando de si mesmo, que tenta nos convencer – e se convencer, em algum grau – de um ethos. Mas deixemos essa viagem para hora mais oportuna.

    p.s.s: Campêlo, espero ansioso por sua “desconstrução”!

    Grato Vanildinho pela possibilidade inigualável de provocar o nosso amigo, marxista, Felipe.

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  2. Campelo, o Filipi25 maio, 2010 21:32

    Sinto muito decepcioná-lo J.C., mas, em virtude da resalva em que vc coloca de lado o contexto, tenho que concordar com o que vc disse.

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