terça-feira, 31 de julho de 2012

Sobre o 3º festival da Canção de Carmo do Rio Claro


Desanimado e sem inspiração alguma para estrofes nos últimos tempos, o Juliano me liga torrando para inscrevermos uma antiga parceria no festival. Dei o ok, desde que este fizesse tudo. Detesto burocracias.

Nem lembrava mais que havia tal inscrição, quando ele me liga na sexta, com o sol já caminhando para a Ásia e fala que tínhamos que apresentar a arada no sábado.

Passagem de som, 14h15. Nem fui. 19h50 estou nas proximidades do evento, a Capela, centro da cidade.

Conversa com um ali, outro lá e como todo letrista, escrevinhador de estrofes, poeta para os mais otimistas ou sarristas, passo tranquilamente despercebido em meio a violões e já conhecidos cantores da sociedade carmelitana.  Talvez não passasse tanto em vão caso a organização não tivesse enviado meu nome para a imprensa como IVANILDO Donizete.

Auditório surpreendentemente lotado. Sento lá no fundo. O Juliano que subiria ao palco para tocar  some. Tão pirado em “Os Sonhos não Envelhece”, o livro de Márcio Borges, inspirado nas histórias do Clube da Esquina e que deu inclusive inspiração e origem para nossa música, me senti o Marcinho participando de seus primeiros festivais com o Bituca (Milton Nascimento).

Me achar o Márcio Borges por três segundos até não é crime. Só jamais poderei ter o mesmo delírio com o Juliano em relação ao Milton. Isso só em uma mistura de vodka, café, repolho, pinga, cinzas de cigarro, água do rio Tietê, conhaque vencido e LSD com vinho seco. Alucinação suicida.

Começam as apresentações com o habitual carisma e a intensa competência de Paulo César Lima ou só PC. Encolhido na penúltima fileira, morrendo de vergonha e medo da recepção do público na hora de Flores Perdidas, sinto as mãos em escalada decrescente de graus.

Começo, meio e fim de apresentação. Aplausos consideráveis. O prêmio eu já tinha faturado: participei do festival e não passei vergonha. Excelente!

Surpresa! E mancadas!

A Composição minha e do Juliano em quarto lugar. Subimos no palco, pegamos troféu e o envelope com o dinheiro da premiação. Aí, o deslize: preocupei tanto com o envelope recheado de cifras e esqueci-me do troféu. Com carinha de cachorro sem vergonha, bem safado, tentando despistar e ausentar a atenção do público da mancada, busquei o troféu.

Segunda mancada da noite: empolguei tanto com o envelope de cifras e esqueci de pagar os três músicos convidados (Guilherme, Henrique e Tadeu). E ainda dividi a grana com o Juliano na frente dos caras. O vacilo foi corrigido logo no outro dia.

Na TV local, mesmo com inúmeras repetições do nome da música (FLORES PERDIDAS) na matéria, a repórter acertou o nome (VANILDO), mas dessa vez brincou de trocar a identidade da música, que na reportagem virou Flores COLORIDAS.

Segundo bloco da matéria rolando e novamente somos citados. Ufa! Dessa vez ela acertou o nome da música, disse em tom seguro: “na quarta colocação ficou a canção Flores PERDIDAS de Juliano Fialho e IVANILDO Donizete. Confesso que já não entendi mais nada depois disso.

Já não sei se chamo Ivanildo ou Vanildo e se a minha letra é Flores Perdidas ou Coloridas, ou achadas ou pretas e brancas. Ou se diante de todas essas trocas, eu sou eu realmente.

Só sei que o envelope de cifras estava corretíssimo! Menos mal.

PS: Com tantas mancadas é óbvio que mesmo levando duas máquinas fotográficas, voltaria sem absolutamente nenhuma foto.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O dinheiro que entristece



Interior de algum lugar do mundo. Ausência de trabalho. Depois que fora despachado a pontapés em forma de atitudes de poder, não mais se acertou. Falo de Juca Silva.

O hoje homem criado fisicamente é um bebê moral de seis meses pedindo ajuda para a mãe. Não pede leite, pois o álcool lhe mata a ansiedade e oferece o sono que por instantes dá lhe o descanso no colchão. Juca precisa do leite da vida, misturado com paz.

Juca perturbado pela maneira que perdera o emprego, até hoje não compreende a razão de tanta implicância. De tanta ganância por dinheiro. Por tanta maldade. Iludiu-se e foi buscar outros ares. Mas mais gastou do que recebeu. Voltou. Inferno astral no topo.

Entre um trabalho e outro, instabilidades. Sonhos mais desejos, igual: ilusão.

Prometera faz alguns anos que jamais iria voltar para aquele lugar de onde saiu moralmente como um vômito. Mas e o dinheiro?  Não tinha nem para o picolé. Juca o traiu, matou sua consciência, magoou o pouco que restava em si de felicidade e esperança.

Contas e contas atrasadas, gente lhe cobrando, amigos (?) se afastando. Juca era uma salada de sentimentos: tristeza, necessidade, culpa, hipocrisia e até honestidade. Sim! Honestidade porque trabalhará para seu sustento sem cuidar da vida de ninguém diretamente.

A alma de Juca chora. Os olhos resistentes nem lacrimejam. Tentam olhar para frente, imaginado que para chegar ao alívio, necessita-se encarar pelo menos com ironia tanta dor.

Por algum tempo não lhe faltará dinheiro. Mas lhe sobrarão dores profundas e cicatrizes morais. Pois, o dinheiro que receberá pelo trabalho honesto, não é de gente honesta.

Agora as dívidas de Juca são com seu solado coração. 


Ps: esta postagem é a de número 200 do blog.
 Imagem usada no texto extraída do blog: http://tiagolinno.wordpress.com