domingo, 30 de setembro de 2012

Rótulos




Chego ao bar do centro, e ele está lotado. Na cidade de 20 mil habitantes é considerado o bar da elite, embora o seu proprietário seja um trabalhador, batalhador e nem grau de escolaridade elevado possui.
Elite em cidade pequena ou até mesmo nos grandes centros hoje em dia, não necessariamente seja significado de ter muita grana. Vale também o status ou querer ser de tal grupo. E na cidade de 20 mil habitantes é assim. Muitos vão ao bar da praça central para fomentar o ego social.

Chego por volta das 21 horas do sábado. Meio mulambento: tênis, calça e camiseta sem marcas expressivas. Um amigo já presente no local acena e até lá vou. Na mesa mais duas pessoas. Nenhum possui grau escolar acima do segundo.  O que evidente não os fazem menores quanto seres humanos, até porque são trabalhadores honestos.

Um pouco mais cedo eu e os mesmos estávamos em um boteco no meu bairro, o maior e popular da cidade. Nem muito pobre, nem muito rico, se é que seja válida essa expressão.  Estão todos lá sujos depois de um dia intenso de trabalho debaixo de um ardente sol. Nada de mesa. Tão no balcão, com um copinho de cachaça do lado e dão risadas saboreando uma deliciosa cerveja detentora do valor mais baixo daquele ambiente. Evidente que me junto a eles e saio feliz da vida. Bebi muito e gastei pouco com o mesmo amargo no céu da boca que um rótulo mais caro causaria.

Voltando ao bar do centro, os mesmos amigos estão lá com uma vestimenta nos padrões da sofisticação. Saboreiam o mesmo rótulo que a maioria presente no local bebe. Mas o conteúdo do bate papo e o modo de sentar são os mesmos. Pois, a marca famosa da camiseta e da cerveja engana bem nos dias de hoje.

Saindo do bar do centro, me lembro de ocasiões que sempre acontecem na hora de pedir a cerveja. Seja nos bares ou nos churrascos. Há sempre um individuo que não pode tomar a cerveja barata, porque dá dor de cabeça no outro dia, enjôo e a alegação mais freqüente: caganeira.

- Essa eu não bebo! É só eu beber dela mijo sentado! Fala com propriedade o Zé Mané.

Até parece que se você encher a cara, comer tira gosto em excesso durante um cerimonial cervejístico, no outro dia você não irá sentir um desses sintomas. Que encheu a cara e por isso passou mal, isso não se admite.

Já me dei por ridículo há algum tempo com essa de querer só a cerveja mais famosa. E era tão pé rapado quanto hoje. Não que tenho algo contra quem tome uma cerveja cara e que jamais faço isso. Evidentemente que bebo. Não nego que surto de vez em quando e desesperadamente quero tomar a cerveja tal. O engraçado é que o signo que vejo em minha mente, é o rótulo da bendita.  

Uma vez em um churrasco dei a ideia de colocar uma cerveja diferente no copo de um amigo que vivia reclamando que determinada cerveja lhe fazia mal. Na bagunça que estava o ambiente, peguei seu copo, fui até a cozinha e enchi com vontade o recipiente da figura com a marca que ele detestava.

Golaço! Bebeu a copada feliz da vida. E até hoje não acredita na brincadeira.

A preocupação com o que os outros pensam, ainda é um amargo que regride a sociedade.

Deveríamos acreditar mais na humanização do que nas máquinas.

Veja no link uma matéria realizada pela TV Alterosa, afiliada do SBT em Minas, sobre troca de rótulos de cerveja. Você já pode ter tomando uma deliciosa Kaiser achando que era uma Skol redondinha. Ou ainda pode cair em alguma pegadinha no churrasco com os "amigos". 

Confira a matéria: www.alterosa.com.br


Um comentário:

  1. - Rótulos são para coisas, não pessoas. Um dia a humanidade há de pensar dessa forma, enquanto isso desce uma Kaiser ai...HAHA

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