Na nossa famosa zona de conforto, na preguiça de tentar entender ou encorajar-se para uma realidade bruta, costumamos desejar um “feliz dia da criança” para cá, outro para lá e assim, o Brasil segue nas demais datas comemorativas como o natal, dias dos namorados, papais, mamães e afins.
Assistindo o documentário “Criança, a Alma do Negócio” de Estela Renner, coloquei um ponto final naquilo que há um certo tempo me melindrava. Conclui que as propagandas brasileiras voltadas ao público infantil são um bombardeio grosseiro nos miolinhos dos coitados.
Além do mais, as propagandas infantis do país remetem escancaradamente, impiedosamente, uma idéia de poder aos “baixinhos”. O que aumenta a chance da criança levar esse ideal para a vida adulta. Optando então pela ganância e não por uma vida básica, com conforto, porém não passando a perna em qualquer um por mais e mais poder.
Entenda um pouco do meu drama: para uma marca influenciar uma criança bastam míseros 30 segundos, segundo a Associação Dietética Norte Americana e Borzekowiski Robison.
Em uma casa, 80% das compras é através dos guris. É o que constatou a Pesquisa Intersciente de outubro de 2003.
O número beira os 100% possivelmente pelo óbvio fato de uma criança não entender que nem sempre seus pais tenham condições “cifreiras” para adquirir o brinquedo que a televisão mostrou e disse para ela que a própria será a mais poderosa e bela do mundo.
Então, ou compra, ou compra, ou tenta o milagre da psicologia (difícil, pois a maioria não suporta chorôrô) ou gasta com remédio. E gastar por gastar, entre sacrificar a conta de água, luz e o leite do mês, o choro da criança, se gasta para livrar da birra.
Outro motivo que leva a criança a crescer achando que tudo é resolvido com insistência e poder (dinheiro).
Um dos comentários que me chamaram atenção no documentário foi em relação ao público dos cinqüentões. Já bem resolvidos, com a cabeça feita, desligada de muitas ilusões mundanas, pouco se morde neles. Ao contrário do que ocorre com os pimpolhos.
Outros números mostrados em “Criança, a Alma do Negócio” destaca se o R$ 130 bilhões que o mercado infantil movimenta no Brasil anualmente. Que o Brasil é terceiro país no mundo que gasta com produtos de beleza (acredite... o público infantil está dentro desses números). Segundo o SEBRAE, são gastos no ano R$ 15 bilhões por ano no setor. Dentro desse segmento, o cuidado com o cabelo fica em primeiro lugar. E que os brinquedos preferenciais são Vídeo Game, ipad, ipod, mp4 e DINEHIRO, dados da cn.com.br. No “país do futebol” a bola foi chutada para fora (trocadilho maldito).
Seria chatice, amargura extrema neste coração ou revolta de minha pessoa com as propagandas de produtos infantis no Brasil?
Seria maluquice acreditar que o melhor para um país que vem nos últimos anos “apostando” na educação para um futuro “melhor”, seja proibir as propagandas infantis ou minimante ter tons sutis, sem cuspir poder nos miolos da pentelhada?
Na Itália, Canadá, Holanda e Dinamarca, por exemplo, é assim. Ou não tem nada ou se tem, com dosagens na linguagem e sinais percebíveis pelos responsáveis para saberem que uma publicidade infantil será exibida.
No dia das crianças, seria bem mais fácil escrever dois parágrafos sobre minha infância. Aliás, faria isso no facebook mesmo, para qualquer um ler e “curtir”. Mas preferi o testamento, tentar tirar você que leu este texto da zona de conforto e rever algum conceito.
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