Desanimado e sem inspiração alguma para estrofes nos últimos
tempos, o Juliano me liga torrando para inscrevermos uma antiga parceria no
festival. Dei o ok, desde que este fizesse tudo. Detesto burocracias.
Nem lembrava mais que havia tal inscrição, quando ele me liga na sexta, com o sol já caminhando para a Ásia e fala que tínhamos que apresentar a arada no sábado.
Passagem de som, 14h15. Nem fui. 19h50 estou nas proximidades do evento, a Capela, centro da cidade.
Conversa com um ali, outro lá e como todo letrista, escrevinhador de estrofes, poeta para os mais otimistas ou sarristas, passo tranquilamente despercebido em meio a violões e já conhecidos cantores da sociedade carmelitana. Talvez não passasse tanto em vão caso a organização não tivesse enviado meu nome para a imprensa como IVANILDO Donizete.
Auditório surpreendentemente lotado. Sento lá no fundo. O Juliano que subiria ao palco para tocar some. Tão pirado em “Os Sonhos não Envelhece”, o livro de Márcio Borges, inspirado nas histórias do Clube da Esquina e que deu inclusive inspiração e origem para nossa música, me senti o Marcinho participando de seus primeiros festivais com o Bituca (Milton Nascimento).
Me achar o Márcio Borges por três segundos até não é crime. Só jamais poderei ter o mesmo delírio com o Juliano em relação ao Milton. Isso só em uma mistura de vodka, café, repolho, pinga, cinzas de cigarro, água do rio Tietê, conhaque vencido e LSD com vinho seco. Alucinação suicida.
Começam as apresentações com o habitual carisma e a intensa competência de Paulo César Lima ou só PC. Encolhido na penúltima fileira, morrendo de vergonha e medo da recepção do público na hora de Flores Perdidas, sinto as mãos em escalada decrescente de graus.
Começo, meio e fim de apresentação. Aplausos consideráveis. O prêmio eu já tinha faturado: participei do festival e não passei vergonha. Excelente!
Surpresa! E mancadas!
A Composição minha e do Juliano em quarto lugar. Subimos no palco, pegamos troféu e o envelope com o dinheiro da premiação. Aí, o deslize: preocupei tanto com o envelope recheado de cifras e esqueci-me do troféu. Com carinha de cachorro sem vergonha, bem safado, tentando despistar e ausentar a atenção do público da mancada, busquei o troféu.
Segunda mancada da noite: empolguei tanto com o envelope de cifras e esqueci de pagar os três músicos convidados (Guilherme, Henrique e Tadeu). E ainda dividi a grana com o Juliano na frente dos caras. O vacilo foi corrigido logo no outro dia.
Na TV local, mesmo com inúmeras repetições do nome da música (FLORES PERDIDAS) na matéria, a repórter acertou o nome (VANILDO), mas dessa vez brincou de trocar a identidade da música, que na reportagem virou Flores COLORIDAS.
Segundo bloco da matéria rolando e novamente somos citados. Ufa! Dessa vez ela acertou o nome da música, disse em tom seguro: “na quarta colocação ficou a canção Flores PERDIDAS de Juliano Fialho e IVANILDO Donizete. Confesso que já não entendi mais nada depois disso.
Já não sei se chamo Ivanildo ou Vanildo e se a minha letra é Flores Perdidas ou Coloridas, ou achadas ou pretas e brancas. Ou se diante de todas essas trocas, eu sou eu realmente.
Só sei que o envelope de cifras estava corretíssimo! Menos mal.
PS: Com tantas mancadas é óbvio que mesmo levando duas máquinas fotográficas, voltaria sem absolutamente nenhuma foto.
Vanildo, não assisti o festival, mas adorei o seu texto. Parabéns.
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