Sexta-Feira, 08 de março, ano 2013. Um dia antes, um sono
normal. Bem ao contrário que se pudesse esperar. Estava credenciado para uma
coletiva com Zico. Mas o tempo passa e aquele frio descompassado na barriga também
evapora. Até tentei criar emoções,
relembrando toda história e importância no futebol que o ex-jogador da seleção
brasileira possui, em vão.
Onze da manhã. Eu e o André seguimos rumo ao local da
coletiva. Historiador e saudosista exagerado, André me alimentava um pouco do “quem
diria o Zico em Carmo do Rio Claro e a gente vai ver o cara que jogou Copa do
Mundo, foi craque e ídolo”. Mas era o
máximo que nos comoveria.
Chegamos. Logo avistamos a parceira Nãna de Minas. Aí sim
emoção de verdade. Porque meio segundo de conversa com a doidona vale muito.
Junto estava o Maurício, ex-colega de faculdade e recém formado em jornalismo.
E lá formamos a rodinha a espera do início da entrevista.
Mais de uma hora depois do horário marcado para a coletiva,
enfim, o começo. O atraso se deu apenas devido a um link da EPTV, afiliada da
Globo no sul de Minas, com o jogador. Nada de mais.
Durante a espera observava os presentes. Para o André e o
Mauricio, tudo normal. A Nãna de Minas desapareceu. E eu já sentia o ambiente,
mas não pela entrevista, mas pelo que observava. Por parte da imprensa
presente, notava-se a maior ansiedade do mundo, a conquista, a entrevista,
muitos certamente pensando: “vou ser o cara da minha cidade agora, meu “face”
vai bombar quando eu falar que entrevistei o Zico”.
O assessor de Arthur Antunes Coimbra aparece. E aos berros
no sutacão carioca da gema é direto: “vamos, vamos, vamos rápido para a sala de
imprensa. Vamos, vamos, agora, vamos gente, rápido. Por algumas irritantes
vezes ele repetiu isso. Me senti um cachorro sendo maltratado. Sem outra
definição.
Mesmo caminhando lentamente, consegui lugar na primeira
fila. E aí, emoção. Mas não por que ficaria perto do Zico. Mas por que ao meu
lado estava o folclórico Bertola. Repórter
das antigas de Carmo do Rio Claro. Lembrei de quando era pivete e o ouvia pela
Difusora AM. Sim. Aquilo era emoção, aquilo era minha história de verdade, um ídolo
ali do meu lado e que ainda veio tirar dúvidas comigo. Enfim algo para
motivar-me para entrevista. Eu iria observar o repórter Esso carmelitano
durante a coletiva.
Zico chega. Cara fechada, tenso, assustado, bem ao contrário
do sujeito carismático que se vê na televisão. Bertola levanta, senta, levanta,
senta, ajusta o gravador, mexe no celular, anda para um lado e outro, não sabe
o que faz, e pior, não sabia como fazer tudo aquilo de uma vez. Zico senta.
Bertola também.
A cara tensa do Zico me dava angustia. Pensei: que mala.
Durante o discurso de apresentação do projeto do Galinho de Quintino na cidade,
aos poucos o nervosismo aparente nele foi indo pela linha de fundo. A cara já
era bem melhor, próxima daquela vista na TV. Porém, Zico descarregava toda
ansiedade nos pés. Sim. Enquanto todos os flashes socavam a sua cara, eu fiquei
olhando seus pés e resolvi fazer uma imagem do celular, já que a câmera estava com o André. Comecei a pensar em tudo que aqueles pés haviam feito para que um simples cidadão, que vai ao banheiro eliminar alimentos como como todos nós, que tem dor de cabeça, ressaca, tristeza,
porres, haviam feito para que ele chegasse até ali como uma pessoa “anormal”.
Quando Zico começou a falar, já era o Zico que acostumamos a
ver. Calmo e simpático. E com essa tranqüilidade, respondeu a
primeira pergunta. E adivinha quem fez a primeira indagação?
Bertola levanta, pede o microfone e em 20 segundos manda
dois chutes interrogatórios. Bertola senta. Ouve calmamente as respostas. Bertola
fica com cara de quero perguntar mais. Mas as regras do jogo não mais permitiriam
interrogações do mestre interrogador da imprensa carmelitana. Uma pena.
Repórter Bertola (de vermelho) em algum momento da coletiva
Nãna também brota sei lá de onde e aparece ao meu lado. E
tira foto daqui, outra foto no istagram dali, me pede uma ajudinha também e
filma. Sim. Estava muito mais interessante observar o corre-corre da imprensa. Também
era interessante ficar olhando para a ferramenta de trabalho que fez Arthur Antunes
Coimbra, o Zico. Seus pés pareciam querer uma bola para chutar no lugar das
perguntas.
Até porque, responder uma pergunta tipo: “Você se considera
o Pelé branco”? não deve ser agradável como chutar uma bolinha. Antes, o “repórter”
bola murcha havia realizado uma série desnecessária de elogios ao
ex-jogador. A bajulação poderia ter ficado pós coletiva. O tal deveria ter prestado
atenção em Bertola e ter visto como se faz. Ou então seguido o método inspirado
no até já clichê: “se você se acha burro, não abra boca para que os outros
tenham certeza”. Se era a intenção do garotão aparecer, talvez tenha
conseguido. Certamente Zico vai lembrar dessa pergunta inútil por um bom tempo.
Perguntas, perguntas, perguntas. Cansei de tudo aquilo. Saí
da coletiva e fui percorrer a área de fora na esperança de encontrar com o
Júnior Baiano. Queria algo diferente. Sem sucesso. Mas, um velhinho despertou
eu e André. Enquanto todos estavam eufóricos, uns puxando o saco, outros
realmente atrás de uma boa pauta, o velhinho limpava as redondezas do ambiente
com a calma da pura e santa paz. Ali estava o Zico, certamente ele se lembra de
1982 e daquele pênalti perdido por Zico na Copa seguinte, contra a França. Mas
o velho homem, nem dava bola. Nem quis atrapalhá-lo. Uma abordagem poderia
deixar o bom homem sem graça e depois tirar a concentração de sua obrigação.
Voltamos para a sala da coletiva. Acabava de terminar.
Confusão. Era hora das fotos e autógrafos. Eu e André pensamos juntos: vamos
lá. Brinquei: por favor, sem pedir autógrafos. Tiramos a foto com Zico.
Publicá-la, talvez daqui um certo tempo, quando ninguém mais lembrar disso. Talvez.
No atual momento, foto com Zico lidera o campeonato de postagens no facebook em
Carmo do Rio Claro.
Após a coletiva. Resolvemos ir comer alguma coisa no restaurante
ao lado. Nos acomodamos na parte externa do ambiente com uma cerveja. Em poucos
minutos aparece Zico. Saudosista de profissão, André discursa o momento que se
resume na frase: estamos tomando cerveja ao lado do Zico. Rimos.
Um pouco mais tarde era hora do jogo do time de Zico. De
todas as iguais fotos, resolvi novamente, fotografar os pés de Zico. Agora
vestido com uma chuteira, exatamente como virou Zico. No mais, duas fotos
durante a partida que consegui fazer em um momento que lembra Zico como Zico.
Um passe de letra e um passe estilo craque clássico.
Fim de partida. Saio derrotado: não vi mais o repórter depois da
coletiva. O jogo teria sido bem mais interessante com Bertola entrevistando o Galinho na beira do gramado do que os passes do craque. Perdeu também Zico, perderam as pessoas ali presentes, perdeu a história.
Ps: Ressalto que o motivo da vinda de Zico em Carmo do Rio Claro foi para apresentação e assinatura de convênio com o município do Projeto Zico 10 e que não sou contrário a este.